terça-feira, 23 de outubro de 2012

CARTA DO ZÉ AGRICULTOR


Cochilo, cê lembra, né Luís?Pois é, eu tô pensando em me mudá para vivê aí na cidadegrande, que nem oceis. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muitomato, passarinho, ar puro... Só que acho que tamo estragando muitoa tua vida e a de teus amigos aí da cidade. Tô vendo todo mundo faláque nóis aqui da roça estamos destruindo o meio ambiente.Veja só ocê. O sítio do pai, que agora é meu... (eu não te contei,mas ele morreu e tive que parar de estudar), fica a só uma hora dedistância da cidade. Todos os matuto daqui da cidade já tem luz emcasa, mas eu continuo sem ter, porque não se pode fincar os postesaqui por dentro, por mó de uma tar de APPA que criaram aqui nasvizinhança. Cê deve sabê o que é uma APPA, né Luís? É uma tar deÁrea de Permanente de Proteção Ambiental. Eta nome bonito sô!Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos,uma maravilha. Mas um homem do governo aqui veio e falou quetenho de fazer uma outorga da água e pagar um taxa de uso, porquea água vai se acabá. Se ele falô, deve ser de verdade, né Luís?Pro cê vê, prá ajudar com as vaca de leite tive de contratá o Juca, filhde um vizinhmuitpobrqumora aqui poperto.Carteira assinada, salário mínimo. Tudo direitinho, conforme a lei econforme o contador mandouEle morava aqui com nóis e dormia lánum quarto dos fundo da casa. Comia com a gente como se fosse dafamília.Mas, um dia, vieram umas pessoa aqui, lá do Sindicato e daDelegacia do Trabalho e elas falaram que se o Juca fosse tirar leitedas vaca às 5 horas da manhã, que eu tinha de pagá hora extranoturna. E que não podia trabalhá nem de sábado e nem de domingo.Mas eu te pregunto Luís. E as vaca! sabe disso! E elas não param dedá leite e é todo dia. Elas num conhece o final de semana não! PôLuís, será que os bicho aí da cidade grande são diferente e sabem seguiá pela folhinha?Essas pessoa ainda foram ver o quarto do Juca, e disseram queo beliche tava uns 2 cm menor do que devia. Nossa! E eu não seicomencumpridar cama, só comprando outra, né Luís? O
candeeiro, eles disseram que não podia acender no quarto, que temque ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador prá mor de têluz boa no quarto do Juca. Disseram ainda que a comida que a gentefazia, e que nóis comia tudo junto, tinha de fazer parte do saláriodele. Agente dava comida pro Juca e ainda tivemo que pagá pra elecumê.Bom Luís, num teve jeito não... Tive de pedir ao Juca prá vortáprá sua casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos homedo sindicato, pelos fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deumuito certo não...Semana passada me disseram que o Juca foi preso porquebotou um chocolate no borso, lá no supermercado. Vai vê que tavacom fome. Foi preso, levaram prá delegacia e bateram nele e numapareceu ninguém prá ajudá o Juca, nem do sindicato e nem fiscal dotrabalho.Depois que o Juca foi embora, eu e Marina (lembra dela, né?Casei), tiramos o leite às 5 e meia, aí eu levo o leite de carroça até abeira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso senão choverSe chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eudava, que hoje jogo tudo fora.Os porco eu num tenho mais, pois que aqui outro home veio edisse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só de20 metros. Disse que eu tinha de derrubar tudo e só fazer chiqueirodepois dos 30 metros de distância do rio. E ainda tinha de fazê umascoisa prá proteger o rio, um tal de biodigestor. Achei que ele tavacerto e disse que ia fazê, mas só que eu sozinho ia demorar uns trintadia prá fazê, mas mesmo assim ele ainda me multou, e prá podê pagátive de vender os porco, as madera e as teia de arame do chiqueiro, efiquei só com as vaca... O promotor disse que desta vez, por essecrime, ele não ia mandar me prender, mas me obrigou a dar seiscestsica prorfanato da cidade. Ô Luísoceiaí da cidadegrande, quando oceis sujam o rio, também pagam multa grande,deve de pagar, né?Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tôpreocupado é com a água do rio... Aqui agora, o rio todo deve sercomo o rio aí da capital, da cidade grande, todo protegido, com mataciliar dos dois lado. Pois que aqui, no sítio, as vaca não podem nemchegar perto do rio, que é prá não sujá, nem pisoteá e nem fazêerosão. Tudo vai ficá limpinho, que nem que aí, nos rios da cidadegrande.A porcada já acabou, as vaca num pode chegá nem perto do rio.Com isso eu inté concordo. Só que alguma coisa tá errada, poisquando vô na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo... Só vejoágua fedida, preta, com lixo boiando prá todo lado. Mas num é o povoda cidade que suja o rio, né Luís? Quem deverá de ser?Aqui no sítio, agora quem sujar tem multa grande, e dá intéprisão... E aí na cidade grande, eles prendem e multa? Cortar árvoreentão, Virge Maria, Nossa Senhora! Nóis tinha uma árvore grande dolado da casa, que murchô e tava morrendo e qualquer dias dessepodia até cair por riba da casa... Então resolvi derrubá prá aproveitá a
adera antes dela cair. Fui no escritório do governo daqui prá pediautorização e como num tinha ninguém, fui no IBAMA da capital,preenchi uns papel e voltei prá esperá o fiscal vim fazê um laudo, právê se depois podia liberar.OiLuíspassou um tempãomaum tempão mesmo, eninguém veio e nem apareceu aqui prá fazê esse tal de laudo. Aí eu vique o pau ia cair na casa e arresolvi derrubá e pronto, cortei a árvore!Foi só fazê isto, que no dia seguinte apareceu um fiscal do IBAMA eme multouJá inté recebi umintimaçãdo Promotor do MeioAmbiente, um tal de Dr. Carvalho, logo um dotô que tem nome deárvore! Daí pensei, tô ferrado! Num teve jeito... Porque agora vireicriminoso reincidente.Primeiro foi os porco, e agora foi o pau. Acho que desta vez vouficar preso. Tô preocupado Luís, pois no rádio deu que a nova lei vaidá uma multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia.Calculei que se eu for multado, eu perco o sítio numa semana.Então é mio vendê e ir morar onde todo mundo cuida da Ecologia.Vou prá capital, prá cidade grande, que aí tem luz, água encanada,esgoto tratado, comida, rio limpo, uma beleza! Olha Luís, eu nãoquero fazer nada errado, só falei dessa coisa porque tenho certezaque a lei é prá todos e igual prá todos, sem distinção... Já tá resolvido... Vou prá cidade grande e morar aí com voceis,Luís, aí da capital. Mas, fique tranqüilo, vou usar o dinheiro da vendado sítio, primeiro prá comprá essa tal de geladeira. Aqui no sítio eutenho que pegá tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, cuida,limpa e depois colhe prá levá prá casa. Aí na cidade grande é bom, ébem melhor, que voceis é só abrir a geladeira, que tem de tudo. Nemdá trabalho, nem carece de plantá, nem de cuidá de galinha, nem deporconem dvaca. É só abrir geladeirqucomida tá ,prontinha, fresquinha, sem precisá de nóis, os criminoso aqui da roça.Inté logo Luís... Logo a gente se vê...Ah! Me adesculpe Luís, não pude mandá a carta em papelreciclado, pois não existe por aqui, mas aguarde até eu vendê osítio...(Todos os fatosituõede multas exigências legaiobaseadoem dadoverdadeirossátirnão visatenuarresponsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental édesigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano...)
José Carlos Ramires
09/11/2010







essa foi a carta que Zé do cochilo mandou para seu primo da cidade falando sobre as desigualdade de sua cidade e que estava pensando seriamente em vender seu sítio e ir morar na cidade como eles.

Zé tinha ido ate o IBAMA para fazer a solicitação de um laudo para poder corta árvore poque  ia cair em cima da sua casa . O IBAMA demoro muito tempo , Zé resolveu corta a arvore sem a autorização . No dia seguinte o IBAMA foi ate a casa do Zé e o multou por ter cortado sem o autorização.


Os sindicatos foram ate o sitio de Zé para fazer o fiscalização e falaram que o chiqueiro tinha que fica 30 m do rio e o chiqueiro dele tinha apenas 20 m do rio e ele teve que vender seus porcos .







Comentários : Nos achamos que Zé do cochilo estava achando que na cidade grande não havia desigualdade . Ele achava que a desigualdade acontecia só na cidade pequena . Porém estava muito enganado a desigualdade acontece em todos os lugares ....





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